O assunto é controverso: estudos relacionam os sais de alumínio (empregados em antiperspirantes para bloquear o suor), os parabenos (conservantes presentes em desodorantes e antiperspirantes) e o triclosan (bactericida) ao câncer de mama e ao mal de Alzheimer. Mas, de acordo com a maioria dos especialistas, como as dermatologistas Lilia Guadanhim, membro e porta-voz da Sociedade Brasileira de Dermatologia, e Renata Magalhães, da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, não há evidências científicas que de fato sustentem essa relação até o momento.
O triclosan, porém, já está no banco dos réus do Food and Drug Administration (FDA), órgão norte-americano que regula alimentos e medicamentos, ainda que os estudos sejam insuficientes. “O FDA está revendo dados sobre a eficácia e a segurança da substância antibacteriana em produtos como desodorantes, sabonetes e enxaguantes bucais. A exposição ao triclosan é muito maior do que se pensava”, diz Lilian, que acrescenta: “Desodorantes antibacterianos, que podem ser necessários para quem sofre com odor muito forte na região, devem ser usados apenas sob orientação médica”. Tem mais: “A substância desequilibra a flora bacteriana da região onde é aplicada, e estudos epidemiológicos confirmam que ele pode ser responsável por alergias e dificuldades reprodutivas”, acrescenta Renata Magalhães.
Dado o sinal de alerta contra esse ingrediente, o mercado de cosméticos pesquisa fórmulas menos agressivas para neutralizar a ação das bactérias que causam o odor nas axilas. Nunca é demais lembrar que o suor, que tem como principal função regular a temperatura corporal, é inodoro, mas uma reação química com as bactérias presentes na pele faz com que ele se modifique.
Os desodorantes mais naturebas evoluíram, mas não existe antiperspirante (o tipo que bloqueia a transpiração) nesse segmento porque são os sais de alumínio os responsáveis por essa função. Aliás, a barreira criada por eles é outra fonte de preocupação das adeptas da beleza natural. Especialistas, entretanto, dizem que isso não é um problema. “A inibição não é completa, e outras áreas da pele continuam com a função de sudorese intacta”, garante Renata.
A dermatologista Patrícia Silveira explica que os desodorantes naturais devem conter ingredientes vegetais e minerais para promover o controle bacteriano e, consequentemente, evitar o odor. “O óleo de malaleuca, lavanda, o extrato de sálvia, o capim-limão, o vinagre de maçã, o bicarbonato de sódio e o leite de magnésia são bons exemplos”, diz a médica.
Uma das substâncias naturais mais efetivas no controle das bactérias é o alume de potássio – um mineral encontrado na natureza, que também contém alumínio, mas de um tipo diferente do empregado nos antiperspirantes. “Esse mineral é composto por moléculas muito grandes para serem absorvidas pela nossa pele, diferentemente do cloridóxido de alumínio”, explica Márcio Accordi, biólogo microbiologista, especialista em cosmetologia clínica. “Os desodorantes em cristal à base de alume de potássio não retêm o suor. O corpo transpira normalmente – eles apenas agem nas bactérias, prevenindo o aparecimento do cheiro desagradável”, complementa Patrícia. O mesmo vale para o alume de amônio sintetizado em laboratórios.
Mas, atenção: o fato de o produto ser rotulado como natural não significa que seja livre de componentes sintéticos. E, mesmo se for, não é garantia de que não possa agredir a pele. Algumas opções contêm álcool, que promove ressecamento e até eczema.
Soluções caseiras como a aplicação de bicarbonato de sódio diluído em água e leite de magnésia são simples, seguras e razoavelmente eficazes. “Elas influenciam o pH da pele da região, fazendo com que a flora bacteriana local seja modificada, contribuindo para a melhora do odor”, explica a dermatologista Renata Magalhães.
Com duração mais curta que os tradicionais, os desodorantes naturais devem ser usados ao menos duas vezes ao dia, após lavagem da área. Recomenda-se intercalar diferentes produtos e marcas, para que o efeito se mantenha por mais tempo.